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Com o avanço do discurso liberal dentro do feminismo, a prostituição tem sido legitimada e tratada dentro do âmbito da “liberdade de escolha”, reduzindo a crítica feminista à mera luta pela
regulamentação da “profissão”, como insistem em nomear. Para @s defensor@s dessa prática, a agência das mulheres se sobrepõe à estrutura e prostituir-se não passa de mais um ofício para vender a força de trabalho, livremente aceito, “apenas negócios”. A história da prostituição e a construção do papel feminino baseada na servidão sexual são completamente ignoradas, pela promessa dos “direitos civis”, enquanto milhares de meninas são traficadas e estupradas e algumas poucas burguesas entediadas vendem a prostituição como algo luxuoso e empoderador. Curiosamente, são essas burguesas que vão parar na mídia com seus Best Sellers sobre como é divertido estar prostituída e como qualquer visão crítica é “moralista”.
A regulamentação é importante para garantir demandas imediatas de mulheres marginalizadas e constantemente violentadas, mas a crítica feminista não pode perder sua radicalidade e aceitar que as
mulheres continuem a ser tratadas como presas e tenham sua sexualidade mercantilizada. O problema da prostituição nasce com o controle da sexualidade das mulheres, que fez com que os homens se apropriassem dos seus corpos e assim o transformassem em mercadorias, objetos que eles fodem e
comercializam entre si para garantir a disponibilidade feminina.
Não há real escolha dentro de uma lógica que reprime a sexualidade das mulheres e estigmatiza a todas como vadias, putas, vagabundas e, do outro lado, esposas e santas. Ainda impera a dinâmica de presas x predadores nas relações heteronormativas, demonstrando como o poder é assimétrico entre os sexos e como o homem é privilegiado, com foco para a questão da sexualidade. Homens “comem” e mulheres ”dão”, na própria linguagem conseguimos identificar a desigualdade e a valorização do falo nas
relações sexuais, mas ainda assim é vendido o falso discurso da “Revolução Sexual”, como se mulheres fossem de fato livres sexualmente e tivessem autonomia sobre seus corpos. Não há liberdade enquanto nossos corpos forem perseguidos, padronizados e violados em função do prazer masculino, e finalmente usados como moeda de troca no capitalismo. Não seremos iludidas pela falácia da escolha, quando tudo o que os machos esperam é que optemos por servi-los sexualmente. E o sexo servil, vendido para garantir a sobrevivência, tem um só nome: estupro.
lyrics
Permitam que os infelizes tenham seu merecido entretenimento. Já não há exploração sistemática, aquelas que se sujeitam o fazem pela agência individual. As miseráveis traficadas são apenas uma mancha na carreira empoderante. As feridas que a dominação sexual abre nos corpos legitima seu comércio. A marginalização da mulher é sua liberdade; o futuro é uma bota pisando num rosto feminino para sempre.
Pela regulamentação do estupro, que seja "profissão" a violência mais antiga do mundo.
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